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Quem foi Marisol Escobar?

Marisol Escobar foi um dos personagens mais importantes do cenário artístico de Nova York durante a década de 60. Artista aclamada pela crítica e pelo público da época, chegou a ser chamada de “rainha da Arte Pop”, mas seu trabalho acabou caindo no esquecimento, como costuma acontecer com a contribuição de tantas mulheres artistas.

Marisol Escobar

Maria Sol Escobar, nasceu em Paris em 1930, de ascendência venezuelana, viveu a sua infância entre a França, a Venezuela e Los Angeles. Quando tinha apenas 11 anos de idade sua mãe se suicidou, algo que vai influenciar muito tanto a sua personalidade, quanto a sua obra. Estudou no École des Beaux-Arts de Paris, na Arts Students League e na New York School of Social Research em Nova York. Foi nesta cidade que ela teve a oportunidade de conhecer artistas como Jackson Pollock, Roy Lichtenstein e Hans Hofmann. Em 1962 conheceu Andy Warhol, com quem chegou a ter uma relação bastante próxima.

Amor, 1962

Durante muito tempo, o fato dela procurar pela sua identidade em estilos primitivos e folclóricos fez com que vários críticos de arte tentassem justificar fazendo referência às suas origens “venezuelana nascida em Paris”, já que essa procura era algo característico tanto de artistas da América Latina, quanto dos artistas da escola de Paris. Era uma tentativa de encaixá-la em uma definição, colocá-la dentro de uma categoria.

Ela experimentou diferentes materiais para as suas esculturas (terracota, bronze e madeira, inspirada pela arte Pré-Colombiana e pelas esculturas da arte folclórica americana), Marisol decide trocar Nova York por Roma por um ano. Quando volta ela rapidamente começa a se associar com o movimento Pop Art que estava surgindo no começo da década de 60, aumentando assim o seu reconhecimento e popularidade. Durante os primeiros anos desta década ela se concentrou em criar retratos tridimensionais e representações de figuras sociais, tendo como inspiração fotografias e memórias pessoais. Marisol conseguia encontrar inspiração em objetos cotidianos que encontrava pelo seu caminho, como é o caso de um pedaço de madeira que se converteu na sua escultura Mona Lisa, ou em um sofá velho que se tornou The Visit.

A Família, 1962

Ela foi a única mulher artista de renome da Pop Arte Americana. Uma das pioneiras menos compreendidas da Pop Art e que também foi a única mulher sobrevivente do movimento. As suas engenhosas montagens que combinam escultura, pintura, desenho, fotografias e objetos encontrados sempre desafiaram categorizações precisas. Os primeiros artigos escritos sobre a sua obra, geralmente a qualificavam como uma artista enigmática, misteriosa, como se “Marisol” fosse uma espécie de máscara. Em artigos mais recentes, Nancy Grove identificou na obra de Marisol um diálogo único e contínuo entre o eu e a sociedade, e que dependia em grande parte de uma “empatia” inata, Marisol possuía grande habilidade para se identificar com pessoas de todas as facetas e níveis da sociedade.

Os Generais, 1962

O seu trabalho está em sintonia com um componente vital da tradição pop que se inspirava em desenhos animados e histórias em quadrinhos, apesar de que ela não se aproprie literalmente de desenhos animados, a incisividade dos estilos tanto de desenhos animados quanto de caricaturas informa suas caracterizações sociais e políticas. Seu trabalho raramente é identificado com desenhos animados porque ela cria obras tridimensionais, mas suas obras também são, ao mesmo tempo, ou ao menos ela as utiliza de maneira gráfica, pintando e desenhando. Desta maneira poderíamos dizer que a sua obra se aproxima mais das caricaturas do que dos desenhos animados. Ela levou para a pintura em madeira a sua abordagem caricatural e senso de humor.

Retrato de Sidney Janis vendendo o Retrato de Sidney Janis, 1967-68

Outra das suas grandes inspirações na arte foi o escultor William King, cujas obras satíricas exploravam os estereótipos sociais. A silhueta e a caricatura reduzem o perfil humano aos seus traços mais distintivos e reconhecíveis. Marisol criou esculturas satíricas inspiradas na vida cotidiana. Segundo a própria artista, essas obras nasceram da necessidade de superar a depressão e a alienação, as suas esculturas começaram como um tipo de rebelião. Ela achava que tudo ao seu redor era sério demais, que ela mesma se sentia muito triste e que todas as pessoas que ela conhecia pareciam estar deprimidas. Então começou a fazer algo divertido para se animar e funcionou. E a beleza do seu trabalho é que ao mesmo tempo, esse uso que ela fez do humor conseguiu conquistar aqueles espectadores que também procuravam por algo que os aliviasse dos fardos cotidianos. A utilização da sátira e da perspicácia já era algo presente nas suas criações da adolescência, assim como vários outros elementos que transmitem a ideia de uma personalidade artística marcante.

Algumas das suas esculturas são construídas a partir de caixas de madeira com apêndices esculpidos, com roupas e acessórios contemporâneos representando as pessoas elegantes da classe média e da burguesia rica em atividades domésticas ou em passeios familiares. Estas obras são ricas em detalhes que na maioria das vezes consiste em formas de nádegas e seios moldadas em gesso e fixadas na parte externa da roupa; esses detalhes vêm destruir a impressão de segurança que poderiam transmitir em um primeiro momento. Marisol não trata essas suas esculturas femininas com um distanciamento divertido, apesar de que possa dar essa impressão em um primeiro momento, já que cada uma delas é também um autorretrato.

Mulheres e um Cachorro, 1964

Graças aos avanços dos últimos anos no campo da teoria feminista, hoje podemos reconsiderar e também reposicionar Marisol como artista, algo que não era possível fazer nos anos 60, época em que grande parte das suas obras foram criadas. De acordo com a análise de Luce Irigaray e de Mary Ann Doane, é possível fazer uma releitura das obras, mas também da artista, vendo-a como “sujeito feminino que está no controle dos processos de representação e de autorrepresentação, muito mais do que determinado por eles”.

Curiosidades:

  • Como fruto da amizade entre ela e Andy Warhol nasceu um retrato escultural que ela fez do artista, e surgiu o convite para que ela aparecesse em vários dos primeiros filmes de Warhol como por exemplo, Kiss e 13 most beautiful women, ambos de 1964.
  • A morte da sua mãe a afetou muito, mudou várias vezes de colégio, e um dia ela decidiu que não queria mais falar: “Decidi que não falaria mais. Não queria soar como as outras pessoas. Eu realmente não falei durante anos, a menos que fosse algo absolutamente necessário na escola ou na rua. Eles achavam que eu estava louca.”
  • Ela herdou algumas características da tradição de criadores de comics da Ash Can School.
  • Marisol também contribuiu para a criação dessa aura de mistério que envolve o seu trabalho, como no caso de sua performance dramática como participante de um painel em um simpósio conectado com a exposição de Moma de 1961 The Art of Assemblage onde ela apareceu usando uma máscara de estilo japonês, e depois atendendo aos pedidos para que retirasse a máscara, ela revela que o seu rosto estava maquiado para duplicar a máscara.
Bebezinha, 1963

Referências

  • Boime, Albert. The Postwar Redefinition of Self: Marisol’s Yearbook Illustrations for the Class of ’49. American Art, Vol. 7, No. 2 (Spring, 1993), pp. 6-21.
  • Whiting, Cécile. Figuring Marisol’s Femininities. RACAR: Revue d’art canadienne / Canadian Art Review, Vol. 18, No. 1/2, Questionner le modernisme / Modernism in Question (1991), pp. 73-90.
  • Articite (em francês)
  • Latin Art Museum (em inglês)
  • Wikiart (imagens)

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